terça-feira, 14 de junho de 2011

CINEMA

NÃO IMPORTA O TAMANHO DA VARINHA,
MAS A MÁGICA QUE ELA CONSEGUE FAZER

Kiko Mollica


O cinema, como quase tudo na natureza, existe em diferentes tamanhos. Um filme, dependendo da sua duração, pode ser um curta, um média ou um longa-metragem. E essa denominação vem da maneira como é dimensionado o suporte onde as historias são impressas para exibição. A película é uma seqüência de fotogramas que somam metros e é arquivada em rolos utilizados para a projeção.

A chegada da tecnologia digital não modificou essas terminologias e tem viabilizado inúmeras produções. Nunca foi tão barato fazer cinema. Nunca tantas pessoas fizeram filmes. Vivemos a democratização dos meios de produção. E os filmes com até quinze minutos de duração talvez sejam a maioria no mercado atualmente.

A importância histórica do curta-metragem

O cinema surgiu como curta-metragem (e depois de inventado, não demorou a chegar ao Brasil - é bom dizer). Raro enquanto ficção, o filme de curta duração se fez presente nos primórdios da nossa história cinematográfica principalmente através de cinejornais e documentários. A Cinemateca Brasileira possui exemplares pioneiros que mostram a importância do formato. De Glauber Rocha a Fernando Meirelles, passando pelo pioneirismo de Humberto Mauro, todos os cineastas brasileiros fizeram cinema com curta duração.

Vale destacar um período muito fértil no final dos anos 1980 conhecido como "Primavera do Curta" onde novos temas e questões surgiram quando a ditadura chegou ao fim. Velhos estilos também foram questionados nesse momento e toda a fertilidade que marca essa etapa teve grande repercussão nos festivais. Outra curiosidade desse período é a presença do formato nas salas comerciais graças a Lei do Curta (sim, já tivemos uma lei que nos defendia). Para exemplificar o que estou dizendo, é daí que surge um dos nossos melhores filmes (independente de sua duração): "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (melhor curta do Festival de Berlim de 1990).

O espaço para exibição dos curtas

Acho que os exibidores não vão gostar da minha opinião, mas os curtas tinham que estar nas salas de cinema junto com a exibição dos longas. A exibição de um curta no início da sessão é perfeita. Se o sujeito não gosta do formato, entra na sala mais tarde. Prefiro muito mais ver um curta a suportar aqueles eternos minutos de publicidade. Outro local para esses filmes é a internet. O site "Porta-Curtas" é o melhor exemplo. O realizador é remunerado, seu filme é contextualizado e sua ficha técnica disponibilizada. Também precisa ser reconhecido e louvado o espaço que o Canal Brasil, a TV Brasil e a TV Cultura reservam para esse formato. O Canal Brasil, principalmente, tem exibição diária de vários curtas. Sem falar de programas dedicados a gêneros específicos, como animação e sexualidade. Os programadores, de maneira geral, precisam não se esquecer de uma coisa: se o curta não é bom, relaxa porque acaba rápido.


Um trampolim para o longa-metragem
É possível ser um cineasta só de curtas-metragens, mas chega uma hora que o diretor quer desafios maiores. Ou começa a desenvolver histórias mais complexas. Não acho que existam temas que só podem ser abordados em uma narrativa maior, mas tenho certeza que com mais tempo podemos nos aprofundar mais em determinados assuntos. Tudo vai depender do realizador. Da sua motivação. Certo é que antes de se fazer um longa-metragem é preciso praticar. E o curta é um excelente espaço para isso. Há mais respeito por quem dirige longa-metragem. Talvez porque realizar um curta não seja difícil se comparamos com a complexidade da produção de um longa-metragem. Mas ambos são manifestações artísticas. E não importa o tamanho da varinha, mas a mágica que ela consegue fazer.

*Kiko Mollica é diretor dos curtas “Seu pai já disse que isso não é brinquedo” e “Soberano”, entre outros.


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